Na segunda reportagem da série sobre Pensadores da Tecnologia e da Educação, você aprende mais sobre a Teoria das Inteligências Múltiplas e entende como as ideias do educador norte-americano podem transformar o ensino
Howard Gardner
Tentar diferenciar as pessoas e taxá-las de acordo com os níveis de inteligência não é uma ideia recente. Nos anos 400, os orientais inventaram testes que se propunham a medir a inteligência dos indivíduos para separá-los em castas. Mas foi apenas no início do século XX que essa ideia de “diagnosticar inteligências para melhorar o ensino” foi sendo incorporada, principalmente pelo trabalho do psicólogo francês Alfred Binet, que aprimorou os testes orientais e criou os famosos testes de QI (Quociente de Inteligência), que tinham como objetivo inicial identificar os alunos que precisavam de reforços extras nos estudos.
Durante décadas, compreendeu-se que a inteligência humana poderia ser medida de acordo com os resultados deste tipo de teste, mas hoje se sabe que os exames de QI avaliam, basicamente, nossa capacidade de raciocínio lógico. Além disso, nas últimas três décadas, a ideia de inteligência única começou a mudar graças aos conceitos desenvolvidos pelo psicólogo e professor norte-americano Howard Gardner, que lançou aTeoria das Inteligências Múltiplas na obra Frames of Mind, de 1983.
Gardner é autor de cerca de 20 livros sobre a teoria de que o ser humano possui mais de um tipo de inteligência e que, portanto, os processos de aprendizagem também devem ser individualizados. Suas ideias causaram grande impacto nos anos 1980, justamente por apresentar um caminho contrário ao do padrão de avaliação de inteligência mais aceito até então, o QI. “Poucos gênios são gênios em tudo. Einstein era um gênio matemático, Shakespeare era um gênio linguístico. Nós temos todos os potenciais, mas alguns são mais desenvolvidos”, exemplifica Celso Antunes, geógrafo, especialista em inteligência e cognição.
Howard Gardner e sua teoria das inteligências múltiplas são o tema desta que é a segunda reportagem da série Pensadores da Tecnologia e da Educação, elaborada pelo Instituto Claro. Você pode ler, também, a primeira reportagem da série sobre o filósofo Pierre Lévy e as noções de cibercultura e de inteligência coletiva.
Múltiplas inteligências, múltiplas formas de aprender
Para basear a sua teoria, Gardner avaliou o trabalho de gênios – como o músico Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791) e o físico Albert Einstein (1879 - 1955). Ele acreditava que as pessoas possuíam tipos de inteligência diferentes e usou os casos para justificar sua teoria e estabelecer os perfis, que hoje são oito. A ideia principal da Teoria das Inteligências Múltiplas é a de que possuímos habilidades diferenciadas para cada tipo de atividade e, portanto, possuímos mais de um tipo de inteligência, embora todos os tipos estejam interligados.
Veja quais são as inteligências segundo Gardner:
1. Lógico-matemática – Pessoas com essa inteligência mais proeminente desenvolvem mais facilmente habilidades em Matemática e em raciocínios lógico-dedutivos.
2. Linguística – Os indivíduos com amplas habilidades em escrita, leitura e em aprender idiomas, por exemplo, têm este tipo de inteligência mais desenvolvida.
3. Espacial – Este tipo de inteligência está ligado à habilidade de lidar com objetos do concreto e sua localização.
4. Físico-cinestésica – As pessoas que têm grande aptidão para controlar os movimentos do corpo possuem este tipo de inteligência mais desenvolvida.
5. Inter e intrapessoal – Refere-se à capacidade de entender a si mesmo e ao outro, relacionar-se bem e ser comunicativo.
6. Musical – Aqui estão as pessoas que possuem grande aptidão para tocar instrumentos musicais.
7. Natural – Este tipo de inteligência contempla o desenvolvimento de habilidades biológicas e de entendimento da natureza.
8. Existencial – Engloba as capacidades filosóficas, de refletir sobre a própria existência.
1. Lógico-matemática – Pessoas com essa inteligência mais proeminente desenvolvem mais facilmente habilidades em Matemática e em raciocínios lógico-dedutivos.
2. Linguística – Os indivíduos com amplas habilidades em escrita, leitura e em aprender idiomas, por exemplo, têm este tipo de inteligência mais desenvolvida.
3. Espacial – Este tipo de inteligência está ligado à habilidade de lidar com objetos do concreto e sua localização.
4. Físico-cinestésica – As pessoas que têm grande aptidão para controlar os movimentos do corpo possuem este tipo de inteligência mais desenvolvida.
5. Inter e intrapessoal – Refere-se à capacidade de entender a si mesmo e ao outro, relacionar-se bem e ser comunicativo.
6. Musical – Aqui estão as pessoas que possuem grande aptidão para tocar instrumentos musicais.
7. Natural – Este tipo de inteligência contempla o desenvolvimento de habilidades biológicas e de entendimento da natureza.
8. Existencial – Engloba as capacidades filosóficas, de refletir sobre a própria existência.
Todos nós possuímos todas essas inteligências e somos capazes de desenvolvê-las, mas acabamos tendo maior aptidão para umas ou outras. O reconhecimento destas inteligências facilita processos de ensino mais individualizados, que ajudam o aluno a compreender os conteúdos nos quais têm mais dificuldade, a partir de sua inteligência mais desenvolvida. “Enquanto persistir a ideia de inteligência como unicidade e não utilizarmos o plural, inteligências, nada vai mudar”, defende Celso. “Dificilmente existe uma atividade que estimule apenas uma inteligência. Um professor pode utilizar a força lógico-matemática de um aluno como rota para estimular outra habilidade”, completa Kátia Smole, mestre em educação e coordenadora do grupo Mathema de formação e pesquisa.
Hoje, é possível afirmar que as tecnologias aparecem como potencializadoras das teorias de Gardner. “A tecnologia permite aprendizagens individualizadas, você ajuda o aluno a escolher seus próprios caminhos. Na era da cibercultura eu dou vasão à multiplicidade de inteligências”, afirma Kátia.
As inteligências múltiplas no dia-a-dia da sala de aula
A sensibilidade do educador para compreender e saber estimular as diversas inteligências em seus alunos é essencial. Um dos princípios de Howard Gardner é atender à diversidade, ou seja, mostrar que todos podem aprender e desenvolver diferentes habilidades, contanto que suas inteligências sejam estimuladas de forma individual. O educador americano defende que as inteligências são múltiplas, assim como as formas de aprender. “Todos temos um elenco de inteligências com características próprias, o importante é saber como utilizá-las para o desenvolvimento”, explica Celso.
Um professor de Matemática deve saber como desenvolver o conhecimento de um aluno que tenha uma inteligência linguística mais proeminente, por exemplo. “Se o aluno tem uma desenvoltura melhor com leitura e escrita é possível utilizar estes recursos na aula de Matemática para que ele aprenda a disciplina mais facilmente” aponta Kátia.
Neste cenário, as tecnologias surgiram como uma forma mais simples para sistematizar a aplicação das ideias de Gardner em sala de aula. Os games e as plataformas adaptativas, por exemplo, oferecem inúmeras possibilidades para que o professor incorpore exercícios personalizados aos planos de aula e ainda monitore o desenvolvimento dos alunos em cada atividade. “A inteligência está no cérebro, mas é o contexto ao qual submeto meu aluno que vai ajudar na sua aprendizagem”, indica Kátia.
As plataformas adaptativas permitem que o educador indique o melhor caminho para o aluno entender diferentes disciplinas, de acordo com suas facilidades e aptidões, assim como os games, onde o aluno, mediado pela didática do professor, desenvolve seu conhecimento junto à narrativa do jogo. “O papel do educador, com essas plataformas, é diversificar a natureza de estímulos para abranger as diferentes formas de inteligência. Assim, o aluno tem diversas chances de progredir na multiplicidade de talentos”, explica Celso.
Mas para ambos os especialistas, ainda há muito o que percorrer para que as teorias sejam integradas à sala de aula, principalmente à brasileira. Para eles, questões como a formação de professores e a continuidade de políticas públicas favoráveis ao ensino adaptativo entram em debate. “No livro Mentes que Mudam, Gardner fala que a mente do professor é difícil de mudar não por que ele é incapaz de mudar, mas sim por que sua formação é a mesma desde a escola até quando se forma na graduação”, esclarece Kátia, que defende que o modelo de formação do professor deve mudar para que ele entenda novas formas de ensinar. “Só é possível mudar quando os alunos estiverem envolvidos em situações que desafiem genuinamente o trabalho do professor”, finaliza a professora. Celso também indica que os professores devem procurar extensões de sua formação, desde novos cursos até a participação em congressos e seminários, para estarem sempre atentos às novas tendências educacionais.
Leia alguns dos livros de Howard Gardner:
Frames of Mind (em inglês)
Mentes que mudam – a arte e a ciência de mudar (em inglês)
Inteligências Múltiplas – a teoria na prática (em inglês)
Nenhum comentário:
Postar um comentário